A Condição Corporal é um dos pontos que
deve sempre fazer parte da avaliação de um animal sujeito ou suspeito de ser ou
ter sido sujeito a maus tratos.
É normalmente
uma avaliação empírica, com apreciação visual externa do animal e que dá uma
ideia geral se está com um “peso normal", ou pelo contrário está
"magro" ou "gordo". Esta avaliação não é um instrumento
exclusivo da área forense, mas é de grande utilidade principalmente quando se
está a instruir um caso onde há suspeita de mau trato e/ou negligência
continuadas.
De
notar, no entanto, que nem sempre uma condição corporal anormal é sinónimo de
mau trato, pode ser devida a uma condição médica e não a uma alimentação
imprópria, em qualidade ou em quantidade. Por outro lado a utilização apenas do
peso do animal pode não ser descritivo do seu estado uma vez que, tal como nos
humanos, o peso por si só é pouco discriminativo.
Uma
forma rápida de avaliar a Condição Corporal é através de Escalas. Existem escalas para cada espécie animal e para a mesma
espécie podem existir vários tipos. Em termos gerais as escalas pontuam a
condição corporal de um animal consoante diversas características observadas,
em que num extremo está uma condição corporal de extraordinária magreza
(pontuação mais baixa da escala) e no extremo oposto a obesidade (pontuação
mais alta na escala), representando o ponto médio uma condição normal (ver
separador “Ligações Úteis”).
Deve
haver cuidado na aplicação das escalas já que, para a mesma espécie, a
existência de uma grande variedade de raças com conformações corporais
diferentes pode levar a uma avaliação errada da condição corporal. Há ainda que
ter em atenção outros factos, como por exemplo o tamanho do pêlo, em animais de
pêlo curto uma inspecção visual poderá ser suficiente, mas o mesmo pode não
acontecer com animais de pêlo comprido, tornando-se necessário palpar o animal
de modo a que a atribuição da pontuação seja correcta. Nos casos em que os
animais apresentem o pêlo mal tratado e emaranhado, muitas vezes torna-se
necessária a tosquia antes da avaliação definitiva.
Embora
tabelas com as escalas sejam uma ajuda visual bastante grande, a sua
apresentação deve ser sempre complementar a uma descrição cuidada e detalhada
da condição corporal do animal, quando da realização do relatório Médico Legal
Veterinário (Clínico ou Tanatológico).
Nas
sociedades ocidentais, o resultado mais comum de mal nutrição em animais
domésticos de companhia é a obesidade.
Não levando em conta causas médicas, muitas vezes esta condição é devida a uma falta
de informação do detentor/cuidador sobre as necessidades nutricionais do animal
tendo em atenção a sua raça, idade, actividade, etc.
Sabendo
que a obesidade é um factor de risco para inúmeras doenças, que é muitas vezes
impeditiva de actividades normais à espécie e que não depende do animal a
escolha de alimentos que ingere, a obesidade em animais de companhia começa a
ser considerado actualmente como uma forma de negligência.
No
entanto para ser considerado passível de acção legal é necessário qe estejam
reunidos alguns factores, nomeadamente que o detentor/cuidador tenha sido
informado dos riscos para a saúde do animal associados a uma dieta desadequada,
tenha havido falha no compromisso de seguir um plano de reequilíbrio da
condição do animal e, o mais importante, o sofrimento que o animal tem/teve
devido à sua condição e à falta de aderência ao plano estabelecido pelo
detentor/cuidador.
No
outro extremo da escala de condição corporal encontra-se o estado de emaciação (extrema magreza). De realçar
mais uma vez que nem sempre esta condição corporal é devida a uma alimentação
desadequada, sendo assim importante saber quais as causas, excluindo as
relacionadas com doenças.
Em
casos de negligência, em que a única causa para o estado emaciado do animal é
uma dieta desadequada, torna-se útil e quase indispensável fazer a documentação
da melhoria da condição corporal ao longo do tempo após ser oferecida ao animal
uma dieta equilibrada, em quantidade e qualidade, e sem necessidade de grande
intervenção médica.
Uma
dieta pode ser desequilibrada por vários motivos onde se inclui a privação de
alimento ou alimentação intermitente, mas também pela falta de qualidade ou por
ser inadequada para a espécie/faixa etária. Embora possa parecer de pouca relevância
o detalhe destes factos, na verdade, para um processo legal, depende muitas
vezes dele o veredicto e a medida da pena. Assim é importante num caso, por
exemplo, de busca e apreensão que durante a análise do local sejam documentadas
as evidências que possam corroborar ou excluir a causa da desadequação da dieta.
Quando
existe privação de ingestão de alimento o corpo vai tentando equilibrar esta
falta com a utilização das suas reservas. O desaparecimento do tecido adiposo
(gordura) é o sinal mais visível exteriormente, começando por desaparecer em “zonas
de reserva” mas, no caso da situação persistir, pode chegar a haver uma diminuição
dramática da gordura até da medula óssea. No entanto antes de chegar a este
ponto já outros órgãos e músculos foram lesados e a morte pode sobrevir sem que
tenham sido atingidos patamares visíveis de subnutrição extremos.
No
entanto, convém ter em atenção que apesar de um animal poder morrer antes das
suas reservas terem sido esgotadas, quando há uma diminuição da gordura da
medula óssea é normalmente um indício de má nutrição e essa evidência pode ser
apreciada em exames histopatológicos posmortem, mesmo que o cadáver esteja em
adiantado estado de decomposição que impeça todos os outros métodos de
avaliação.
Apesar
da evidenciação de uma fraca condição corporal não ser visualmente difícil,
deve ser sempre suportada e realçada pela referência à dor e sofrimento experienciado
pelo animal durante o processo, que normalmente é longo.
Como
referido antes, no caso da vítima estar viva, a documentação da sua recuperação
ao longo do tempo é um factor de impacto importante e deve ser providenciada
documentação fotográfica que possa ilustrar essa recuperação. “Uma imagem vale
mais do que mil palavras”, e embora um caso de negligência não se possa
fundamentar apenas em imagens “antes e depois”, elas são, sem dúvida, uma
belíssima ilustração para os factos relatados.
Anabela Santos Moreira
29 Julho 2014
29 Julho 2014
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